"'Boa tarde Pessoal!!'
E uma resposta quase susurrada, perdida la no fundo da sala, depois de alguns minutos:
'Boa tarde professora.'
Tudo pronto! Vídeos, slides, após várias pesquisas, após ter roubado um tempinho do sagrado domingo para planejar aquela aula, ter deixado de ficar fazendo nada com o Amor.. Ter ido dormir mais de meia noite pra acordar antes das cinco... Depois de 50 minutos dentro de um carro que mais parece uma lata de sardinhas, finalmente se chega naquele lugar estranho. Com um monte de gente humilde, onde a educação chega de maneira torta (a começar pelo percurso dos professores) e depois porque aquele povo aprendeu, que o importante é 'estar formado', é dizer assim: tenho meu diploma de segundo Grau. Porque o nosso país, é um país de números. A quantidade de gente alfabetizada, 'formada', é o que engradece as estatísticas. E é o que deixa o povão cada vez mais alienado, mas, voltando a historinha...
A professora ta la, com a sua aula toda planejada. E muito bem planejada.. E começa a falar... Na verdade ela TENTA fazer isso. Porque simplesmente não dá... Gargalhadas dum lado, conversas do outro, gente que estava ali, só superficialmente. E estavam afim mesmo era de atrapalhar. E conseguiram! A aula maravilhosa, ela até tentou colocar em prática no primeiro horário... Mas aí tocou o sinal, ela saiu stressada, frustrada, desanimada... E voltou no próximo horário: "Abram os livros no capítulo 12 e façam um resumo do assunto. É pra nota!" Todos se calaram, abriram seus livros e começaram a fazer de forma mecânica, o que foi pedido. Acabou a conversa, o barulho, a baderna e dessa vez, a 'aula' não teve nda de frustrante. Novamente tocou o sinal, ela saiu e dessa vez, com a sensação: Missão Cumprida! E lhe entristeceu pensar que na próxima semana, começaria tudo de novo! Mas agora, ela já sabia como agir..."
Aí eu fico me perguntando, aliás, analisando, o tipo de educação que está sendo contruída nesse país. O tipo de "cidadão", que se quer formar... Os próprios educandos são "produzidos" para se tornarem cada vez mais dependentes. Especialmente o ensino Público, de onde vem a minha experiência (mais frustrante) estudantes e educadores se tornam vítimas de um sistema que quer mesmo é escravizar. Afinal, que sentido faria, ter tanta gente realmente FORMADA? Como é que a corrupção continuaria sem contestação, a miséria continuaria sendo aceita e as pessoas continuariam votando nos representantes errados? Como é que se sustentaria a desigualdade social, que move esse país? COMO? Gente que pensa, precisa se afastar da educação. Porque não se cria condições, para que ela realmente dê certo! O professor, todo iludido (especialmente iniciantes), sonha bastante.. Mas aí quando ele entra em contato com a realidade, é jogado la pra casa da *****, tem que viajar quase uma hora, muitas vezes, vai pra outra área de atuação, e na maioria das vezes, ensina o que nem ele sabe! Já começa pela desvalorização da condição profissional do educador e só pra completar a bagaceira, (ainda bem que tô escrevendo no meu blog e não numa redação de vestibular, rs..) ele ainda encontra alunos totalmente corrompidos! Que realmente acreditam que badernar, conversar, atrapalhar mesmo é que é o certo! Afinal, eles não foram com a cara da professora mesmo, ela tem é que sofrer nas mãos deles mesmo! E sofreo mesmo... Mas é um sofrimento passageiro... Tem os que se acostumam, outros simplesmente não se importam e outros ainda, vão trabalhar com outra coisa! Eu estou no caminho desses últimos... O que eles (os alunos) não conseguem perceber (e isso me dói), é que tudo aquilo é intencional. Eles estão numa escola que não foi feita pra formar "doutor" mesmo não, e sim para aumentar os números daqueles que precisarão chamar alguém de "senhor"... E na maioria das vezes dizer amém, até porque eles não se interessam em aprender a questionar. E eles estão condenados a isso... A viver sempre naquela condição subalterna e não é por falta de tentativas que eles enxerguem o que é real. E o pior de tudo mesmo, é essa sensação de que estou sozinha nessa luta! E aí admito: Sou fraca demais. Seria até mais louvável se eu pensasse: Não vou desistir! Eu vou enfrentar, vou tentar mudar isso aqui... Mas pra mim, não dá! Chega um momento, que acabamos corrompidos também. E aí começamos a enrolar mesmo, oferecendo aquela velha aula, que eu tanto criticava quando estava na condição de aluna. E eu não quero me ver numa situação dessas! Não quero chegar a começar a ir ali, só pra não ganhar uma falta que será descontada no meu mísero salário no final do mês. Eu preciso fazer aquilo que eu acredito. Mas eu preciso de dinheiro também. A vida não perdoa, você tem que se virar em algum momento. Só que, os mais inquietos e ate desiludidos, acabam partindo pra outra! Vão estudar mais, fazer um concurso público, pra trabalhar menos, ganhar mais e ser mais reconhecido. Algumas vezes, até pra ganhar tanto quanto, mas para serem mais respeitados... ou pelo menos, não se tornarem tão frustrados! Alguns, por amor, permanecem na profissão. Outros, por comodismo. Eu, estou entre as inquietas. E me amo demais, pra me condenar a isso. Porque é assim que estou vendo a situação. Acredito que a educação verdaeira pode sim mudar esse país. Pessoas educadas, não apenas no sentido estético da expressão, podem sim construir um mundo melhor! Só que, sinceramente, pra mim não dá! Não nesse momento... Eu, como tanta gente, pretendo seguir por outro caminho. Mas é como a questão do meio ambiente, da água... Se eu não faço nada agora, que mundo estou construindo para os meus filhos? E mesmo assim, espero que em breve, eu finalmente consiga seguir por outro caminho... E quanto aos meus filhos, que me perdoem desde já! =/
Monique Santana.